Eu - Sara Cura



Eu vejo-te.
Vejo-te na pincelada mecânica do cego,
Alheio às cores vivas e gritantes, tatuando o seu vazio.
E revejo-te, em pleno mar sombrio, no pranto seco
Da sereia, ansiando por calcar o solo do sol foragido.
Eu vejo-te e revejo-te no astronauta soterrado na gruta,
Na crença abrupta de que há astros ali esquecidos.

Eu revejo-te e, no entanto, não vejo nada,
Porque nada disto existiu e o nada sempre doeu.
Tu já não existes, tampouco existo eu.

Sara Cura

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