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A mostrar mensagens de abril 26, 2020

Eu - Marina Preguiça

Eu? Virginia Woolf perguntou-me quem sou eu. Sou a que se pintou com o negro das trevas e com o branco e azul do céu. Virginia Woolf perguntou-me quem sou eu. Sou a que se achou no desconhecido e no familiar se perdeu. Virginia Woolf perguntou-me quem sou eu. Sou a que chorou fogo na morte e que no amor ardeu. Virginia Woolf perguntou-me se tenho um quarto só meu. Sim, Virginia, tenho um quarto só meu. Mas descobri que esse quarto, afinal, sou eu.            Marina Preguiça

Eu - Margarida Batista

Eu? Agora não posso. Listas de coisas para fazer. Objetivo: (não) enlouquecer. Se os dias estão maiores, porque é que tenho menos tempo? Se faço cada vez menos coisas, porque me sinto tão sem vontade? Trapézio. Gratidão, ressentimento. Alegria, exasperação. Sono, insónias. Paradoxos. Aborrecimento. Tenho sono às horas de estar alegre e não durmo quando encosto a cabeça. Ontem sonhei com gatos. Eram muitos. Saíam debaixo do poial da porta do quintal da minha avó. Não paravam de sair de um buraco escuro. Pesadelos? Eu? Margarida Batista

Eu - Sara Cura

Eu vejo-te. Vejo-te na pincelada mecânica do cego, Alheio às cores vivas e gritantes, tatuando o seu vazio. E revejo-te, em pleno mar sombrio, no pranto seco Da sereia, ansiando por calcar o solo do sol foragido. Eu vejo-te e revejo-te no astronauta soterrado na gruta, Na crença abrupta de que há astros ali esquecidos. Eu revejo-te e, no entanto, não vejo nada, Porque nada disto existiu e o nada sempre doeu. Tu já não existes, tampouco existo eu. Sara Cura

Eu - Patrícia

Eu nem sempre me lembro de quem fui. Guardo vagas sensações de uma certa alegria que me seria inata, mais tarde atropelada pela dor. A meio da vida amassei as duas em poesia, a caminho do final neste esquecimento em que me fiz. São as fronteiras que desvanecem – as do pensamento, antes tão meu mas agora derramado pelos veios da terra, pó como ela. Fico assim imersa no mundo, diluída, e só alguém que não eu saberá se não serei, mais do que nunca, eu. Patrícia

Eu - Mariana Monteiro

Eu escuto através dos olhos e dos cotovelos que não param. O som atinge-me e eu pestanejo, depois bocejo. Dou meia volta e regresso à janela. Os pássaros, que apenas oiço, vagueiam num espaço que não me pertence. As minhas asas permanecem imóveis. Aguento suspensa, sem saber como. Abro a boca e tento sentir o ar, encher os pulmões. Falta-me luz. Os cotovelos fazem círculos. Buscam novos sons. Pisco o olho esquerdo, depois o direito. Uma pena cai-me no ombro e novamente me sinto eu… Mariana Monteiro

Eu - Anónimo

Eu talvez seja só um reflexo. Uma máscara ou fachada. Que deixa o espelho perplexo, Ao descobri-la rachada. Mas talvez também seja eu, Que me esteja a esconder. Do espelho frio que me entorpeceu, Num mundo só meu onde posso escrever. Este "eu" é sonhos e temores. É cada palavra no papel. É pintor que cria mundos com frases, Usa emoções como cores, E imaginação como pincel. Talvez eu seja um reflexo meu. E talvez, só talvez, O eu que escreve Seja o verdadeiro eu.

Eu - Isabelz

Eu e a minha idade. Eu e as minhas carnes sucessivamente tombadas sob costelas descarnadas. Curvas “desnível”, desorientadas, perdidas do seu lugar de outrora. Eu e as linhas vincadas que me cosem o rosto ao da minha mãe. Quadrículas de sulcos vagabundos, já sem ponto de fuga no sorriso. Eu e as dores que me atropelam os passos. Mágoas de erros e de volições, ou carmas familiares que não se podem transpor. Mas eu e a minha tranquilidade com argúcia comprada ao tempo. Agora, Eu.   Isabelz

Eu - Frelsih

Eu adorava as ruas mais estreitas e sombrias. Adorava as histórias possíveis de imaginar num beco lisboeta. Poucos veem, mas há histórias nos olhos exaustos de um rapaz que arrasta um cigarro até aos lábios. Histórias nas camisas desbotadas, encharcadas de suor, a escorrer nos varais. Histórias no álcool derramado na calçada, nos graffitis das paredes, a gritar mudas frases de revolta. Há histórias no que é vulgar e há uma beleza triste nas batalhas perdidas e nos defeitos humanos.   Poucos veem, mas vejo eu. Frelsih

Eu - Calíope

Eu, cheia de tudo, te escrevo, Indiferente do que vou encontrar, Mas sempre desejando tropeçar contigo Numa morada melhor que esta. Escrevo-te, cheia do nada que me preenche, E que constantemente se alastra. Contudo, recuso-me a deixar que chegue aqui. Aqui, só te quero agradecer Pela vida que construíste para nós Mesmo que ainda lutes pela escuridão que é minha. Podia dizer que o escrevo pela pequena sonhadora que fui Mas faço-o inteira e egoistamente Pela perseverança da essência do nosso ser. Sempre tua, Eu Calíope

Eu - Inês Istente

Eu reconheço-me melhor numa folha de papel do que num espelho limpo. Procuro tecer palavras e ouvir os gritos do meu silêncio, na esperança de transcender esse eu do espelho. Na escrita, descubro dimensões de mim que a minha boca desconhece. Deparo-me com uma alma que não cabe em tão pequeno e tão frágil corpo. Este eu que escreve, é o mais próximo de mim e quando o encontro, a plenitude toca-me à porta. Um dia, terei coragem de a abrir, mas não serei eu. Inês Istente

Eu - Li Lemos

Eu já tive um amor inteiro, Viveu comigo tão sozinha. No fado procurei promessas, Ai que saudades dele eu tinha!   Neste meu coração em sangue, A voz guardou-se num cantinho. Louca de amor, então surrei-lhe: -Voz acompanha-me, no meu triste caminho!   Coração não te enganes, Não te percas nesse destino. Ai voz não me abandones, Nesta vida, não encontro sentido!   Eu já vivi um amor inteiro, Não sei porque se perdeu… Quando me olho ao espelho, Pergunto ao coração: -Quem sou eu? -Quem sou eu? Li Lemos

Eu - C.

Eu finalmente ali estava, a mil quilômetros de casa, no Amarelinho, bar histórico e badalado do centro do Rio de Janeiro.O Amarelinho é a cara da cidade! Lá passaram figuras notórias como Oscar Niemyer, Mário de Andrade, Vinícius de Moraes. Barzinho eclético, ótimo ponto de encontro. Foi lá que marcamos. O site dizia 99% de compatibilidade. Não acredito na sorte! Ele chegou, estendeu a mão e sorriu a tempo de eu não ver por entre o bigode um único dente sequer! - Prazer, sou eu. C.

Eu - Catarina Pisco

Eu já esqueci a última vez que soube ser livre. Uma vaga imagem fumarenta espreita ainda do canto do olho - mas logo some, impossível de se fixar. Sei apenas que existiam dores de barriga de gargalhadas leves e altas e uma pele beijada pelo carinho do sol e do sal. Porém, de que me servem sentimentos que não chegam a memórias? Tic-tac-tic-tac. Olho o relógio, o meu fiel captor, obstinado em reduzir-me a milésimas de segundo que não dão tempo à verdade: ele sou eu. Catarina Pisco

Eu - Aline Arantes

Eu acordei desconvexa. Sempre tive orgulho de ser curvada para fora, mas, hoje, não estou. Não é que esteja exatamente côncava, pelo contrário, não posso me inclinar aqui para dentro. Escuro demais, barulho demais, entulho demais. Muito menos direita, rija, isso é algo que nunca soube ser. Minha avó já dizia, “essa daí, jamais será linha reta”. E eu, não sei se porque cheirava orgulho em sua voz, nunca tentei discordar. Mas hoje acordei desconexa, talvez   até um pouco perplexa com tamanho contrassenso: desconvexa, eu? Aline Arantes

Eu - Alex Rodes

Eu não sou o que sou, mas o que penso ser. Sou um reflexo deste belo amanhecer. Sou a sombra do velho entardecer. Sou o monstro do malvado anoitecer. Sou para ti o reflexo de mim mesma, uma tela, um espelho, uma fraqueza. Às vezes reflito luz, outras tristeza. De todas as dúvidas, nenhuma certeza. Às vezes sou terra firme que aguenta e sustenta, outras movediça, que prende e acorrenta. Sou o que queres que eu seja. Sou como tu, ou tu és como eu? Alex Rodes

Eu - Enoel

Eu sou feita de inquietações. Da permanente dúvida sobre a cadência do teu coração. Sou feita de mágoas e choros. De batalhas e guerras impossíveis. Em mim está cravada a tua ausência. O teu finito e breve sopro de vida. O mar ondula. A corrente leva-me. Por momentos deixo-me apaziguar, presa pelos fios do tempo, que passa lento e cruel. Volta a tormenta. E arrastas o tumulto contigo. Eu sou a vida que contenho. A que deixaste em mim. Nesta, que já não sou eu. Enoel

Eu - Paulo Ramos Jerónimo

Eu não gosto de pensamentos estreitos, mas, neste momento, não consigo sair daqui. Ver o meu pai ali, deitado, à espera, traz-me memórias. Revi tudo: quase órfão, nunca lhe tinha conhecido abraços nem beijos; apenas caras fechadas, reprimendas, e um sentir estranho de que nunca nos tínhamos pertencido. Até que recebemos o Monte dos Vitrais. Reconstruir a herança do avô, desde o portão de ferro às telhas do estábulo, foi a nossa terapia. Discutimos e gritámos muito. Mas começámos a falar. Ele mudou. Como eu. Paulo Ramos Jerónimo

Eu - Kungokhala

Eu vejo através de um véu: Visão fosca, embaciada. Cuido da minha moldura: Estão meus esforços circunscritos. Recolho os despojos do dia: Em minutos iludidos de excessiva utopia... Do ventre de minha mãe Tive origem no vazio; Caminho por este troço Emudecido, em pousio, Aguardando a sementeira Frágil, oculta e inteira, Germinando trigo e joio. Ao crepúsculo, desce seu véu o luar. O que era agora visível Grisalho restou, por fim. Nesta noite de breu Em consumado apogeu, Entrego-lhe o inevitável: Inteiramente, o meu eu.

Eu - Cláudio Lima

Eu, sou eu que caminho pela sombra Entre as casas, Pela rua de terra batida Até ao saloon. Ajeito o chapéu Depois o coldre. Bebo um whisky Com vagar   E é então que tudo se precipita. Furibundo, o realizador desata aos gritos, Chama-me cowboy de merda E manda começar tudo de novo.   Não era suposto aquela pistola Estar carregada. No filme Vê-se perfeitamente que sou eu A sacar da arma   E a matar o realizador.   Sim, sou eu, Não há duvida de que sou eu...

Eu - Bruno Andrade

"Eu, perdido e sem rumo, sou um completo estranho de mim mesmo, um desconhecido de todos os outros. Olho o eu passado, que me trouxe dolorosamente ao eu do presente, e vejo, apenas a espaços, o sonho de um Deus que não sei se existe, a esperança de uns pais que não sinto, uma vida cheia ao meu alcance… E, no entanto, conhecendo-me o muito que conheço, que outro ser perfeito poderia frustrar, com soberba confiança, tais sonhos, tamanha esperança, tanta vida, que não eu?"       Bruno Andrade

Posições no Torneio

2.º Desafio Se eu achava que haveria lugar a desempate nesta segunda volta, enganei-me. Quanto muito, empatou-se ainda mais. Todos estão empatados nos primeiros lugares e nada é certo: qualquer um pode ser o vencedor final.  Lugares de destaque: 1.ª posição, 54 pontos; 2.ª posição, 53 pontos; 3.ª posição, 52 pontos; 4.ª posição, 51 pontos; 5.ª posição, 50 pontos. Tabela de pontuação: Alex Rodes 54 Alexandre Mendes 54 Aline Arantes 54 Ana Catarina Baptista 51 Catarina Coelho 54 Maria Flor 50 Escafandro 53 Alice B. Sobral 52 Émssi 51 Ana Vargas Santos 53 Ana Torres 52 Cláudio Lima 54 Bruno Andrade 54 Carolina Pinto 53 Calíope 53 Catarina Pisco 54 Frelsih 54 Isabel N 53 Catarina Mendes 51 C. 54 Maria Lufialoísa 52 Cristina Hélcias 51 ORPHEU 53 1114

Perceber (melhor) a pontuação!

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Já recebeu a sua pontuação e gostaria de perceber melhor o que ela significa, para melhorar ainda mais? Aqui fica uma breve explicação: Domínio da Língua: 9 pontos: irrepreensível… ou mesmo fora de série! 7 ou 8 pontos: um domínio extraordinário, mas que deixou passar, talvez por pura distracção, alguma gralha, falta de pontuação ou pormenor menos correcto no universo gramatical. Estão também nesta categoria: poemas que não foram pontuados, mesmo que essa ausência de pontuação tenha sido intencional, ou textos com neologismos que não foram devidamente identificados (se inventou uma palavra intencionalmente, coloque-a em itálico ou aspas, para sabermos que não foi uma gralha). 6, 5 ou 4 pontos: Quanto mais erros acontecerem na sua escrita, mais pontos perde. Aposte na revisão! Habilidade: 9 pontos: seguiu todos os critérios! 8 ou 7 pontos: algum critério não foi cumprido (mesmo que intencionalmente), mas os restantes sim. 6, 5 ou 4 pontos: cumpriu, respectivamente, a