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A mostrar mensagens de outubro 25, 2020

Cartas (7)

    Tal & Coisa, Lda.   Ex.mº Sr. Dr. Fulano de Tal        Diretor da Gestão de Autómatos   Avenida Do Não         0000-000 Sítio Soturno Ex.mº Sr. Dr. Fulano de Tal,    Venho por este meio, por outro pareceu-me perda de tempo, do meu e do vosso, informá-lo da minha resolução, melhor dizendo, ânsia de cessar funções na Tal & Coisa, Lda.   Poderia, melhor dizendo, deveria salientar a experiência deveras gratificante, a oportunidade ímpar, o desafio marcante na minha carreira. Mas estaria a embustear V. Exa. e pouco ou nada contribuiria para o intuito desta minha missiva.  Com o foco no meu futuro rutilante longe do céu plúmbeo que vos cobre, despeço-me sem saudade.    Aquela Que Teve Sorte        Escrito por: SVPSB     Irmão, O teu filho pergunta-me todos os dias quando voltas para casa… Ele estuda imenso, é o melhor da classe. Nem imaginas o pequeno génio que é. A Arisha recuperou graças a ti e eu nunca te vou conseguir agradece

Cartas (6)

  À Senhora do Café - Óleo sobre tela, 2010 –   Desde há cerca de 4 anos que não consigo tirar os olhos de si. Tem um ar tão distinto! Mãos de veludo transparente, chapéu amarelo ocre, outonal, a condizer com esse longo casaco garço e macio. Espreito-a da janela, neste meu olhar azul marítimo perdido no horizonte. Revisito a infância, a nostalgia do entardecer na aldeia – os serões em família, o recreio na escola, as rodas e os bailaricos, as marionetas e a pianola, os concertos no coreto,  os fados da Amália,  a missa de Domingo e o casamento da prima Juvenália… …e é neste desconcerto que vivo…   Ah, hoje mesmo decidi mudar os quadros da parede. Acabou-se, Modigliani!   Tua, Joaninha   Escrito por: Joaninha Lobo     Mãe, vou-me embora.   Eu sei que tu achas que é cedo, que estou muito melhor aqui, que é mais seguro, pelo menos por enquanto.   Mas eu estou farto. Duzentos e setenta dias é demais. Nem pensar! E depois, isto aqui é sempre i

Cartas (5)

  Adriana, Sem forças, apenas consegui tirar-te os sapatos. Olho, suspenso, de frente para os teus pés descalços, sem cor. Baloiças como as folhas da árvore de onde partiste. Brisa forte e silêncio no nosso jardim. Desapareceu a dor que te consumia? Hoje, sobre este pedaço de papel despeço-me, com a vertigem da interrogação aguda: se eu tivesse atendido a chamada, que fingi não ter ouvido, ontem? Estremeço. Um escadote tombado sob o teu corpo inteiro sem alma. Chamo a polícia ou a tua mãe? Assim ao vento, o vestido, que te ofereci, fica-te muito bem. Mas assentava-te melhor quando estavas viva, com os pés quentes no chão de terra. Agora vou. Quando chegarem desenlaçar-te-ão, para sempre. Com amor, Serafim                     Escrito por: Margarida Baptista   Helena, Espero que esta mensagem te encontre, embora seja uma esperança vã. Há algo de muito errado aqui.... Era capaz de jurar que éramos 7 quando começámos esta missão. Tenho quase a certeza. Há

Cartas (4)

  Umbelina,  Sinto falta das meias torcidas nas costas do banco, das toalhas duras penduradas na porta, da areia e do pó nos tapetes. Sinto falta das dores nas pernas e nas costas, dos pés gelados.  Só uma gaja doida como tu me levava assim. Se fosses mais nova…  Vamos para a ilha! Vai ser incrível!  Então e os putos?  Vamos todos! Respondeste logo sem pensar.  Claro que ía estar calor, a ferver, claro que todos ajudavam e todos iam gostar. Fiquei pessimista, esqueci os comprimidos no fundo do armário e voltei a ver o cão preto. 30 dias são demasiados dias.  Pouco te contei sobre esta parte da minha vida, desculpa, não queria desiludir, queria esquecer.  Adeus meu amor.  Abelardo" Escrito por: Eduardo Flor         Queridos Animais da Selva     Segui o vosso conselho.   Ontem fui visto pelo veterinário que declarou que sofro de um colapso nervoso   —   coisa nunca vista num Rei   —   e que devo tirar seis meses de férias na ilha de Rapa Nui e contar as 900 e