Léxico familiar religiosamente anotado pela mão da minha irmã enquanto a mãe se embrenhava em tecidos, o pai andava por fora e nós nos entretínhamos a trocar mimos de rimas que tínhamos na ponta bem afiada da língua maliciosamente desenferrujada, O Pai, profissional de mão cheia, intitulava-nos a sociedade do arrebenta, Partia-se um prato, estragava-se um brinquedo, havia jogos pelo chão, lápis roídos, joelhos esfolados lá estava a sociedade do arrebenta em acção, A Mãe, elegante, impecavelmente penteada, risca ao meio e cabelo enrolado para dentro, gostava de se arranjar e vestir bem, lamentava-se que nem podia com um gato pelo rabo, Queixa nossa de dores de cabeça colhia invariavelmente a resposta da praxe, Corta-a e deita-a fora, Mãe, esfolei os joelhos, Não passaste do chão, pois não? Mãe, quando é que vou ter um piano, No dia em que as galinhas tiverem dentes, O meu irmão Filipe, mais conhecido por Fifi, tinha uma capacidade imensa de nos arreliar por ser o mais velho, mas a...