Quando eu Nasci
Quando eu nasci, tinha junto a mim a minha mãe e os meus dois irmãos. Eu era bem mais pequenino do que eles, que já tinham saído do ovo há alguns dias. Dois ou três, se calhar, mas, no tempo dos pássaros, dois ou três dias são muitos dias. A minha mãe apressou-se a chamar pelo meu pai, que voou até nós e me veio alimentar.
Havia mais pássaros nos outros ramos da minha árvore, e outros tantos noutros ramos de outras árvores. Tivemos a sorte de nascer numa daquelas zonas das cidades em que ainda há árvores. Foi uma questão de sorte porque não se escolhe o lugar onde se nasce.
Se não me tivesse calhado aquela árvore, provavelmente nunca teria conhecido o miúdo. Foi num dia ao fim da tarde. Eu seguia com o olhar o voo corajoso de cada um dos meus irmãos e dei-me conta de que outros olhos faziam o mesmo. Um miúdo espreitava-os através de uma janela e, num dos regressos de um deles ao nosso ramo, reparou em mim. Ficou admirado de me ver ainda no ninho e passou a vigiar-me. Dia após dia, espantava-se com o que eu ia aprendendo e acho que percebeu primeiro do que eu que eu já era capaz de saltitar.
Não posso jurar, mas tenho também quase a certeza de que quando finalmente confiei nas minhas asas e me aventurei a deixar o ninho, o ouvi gritar:
- Tu consegues, Quentin!
E eu consegui.
Indy
Que bonito! Que docura... Adorei!
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