TOP 10 | Carta Poema | Benedita Koenders
"Lisboa, 19 de Março de 2022 Filha, Hoje, é dia do Pai e acordei a pensar em ti. Que te dizer passados vinte anos desde o nosso último encontro? Tantos encontros e desencontros. Cumplicidade perdida. Silêncio denso e espesso. As palavras nunca serão suficientes para te dizer o que sinto. Neste momento, velho e cansado, quero um abraço teu. Quero ficar sentado contigo num banco de jardim e permitir que a poeira dos anos que nos afastou se dissipe nas nuvens do céu para nunca mais voltar. Quero através de um singelo olhar recuperar o tempo perdido. Mas como recuperar algo que se perdeu? Dúvidas de velho que sente o tempo a escorregar-lhe pelas mãos... Hoje, mais uma vez, vou estar sentado no banco do “nosso” jardim e desejar que os nossos olhares se cruzem. Vou desejar que haja apenas um encontro e que o silêncio dê lugar a uma cumplicidade que nos envolva num terno abraço há muito adiado....