TOP 10 | Carta Poema | Manuela Henriques

 "Eva,

Desejo que estejas bem.

Ao começares a ler esta carta, pára. Pára e salta já para o fim! O fim é sempre a melhor parte.

Pelo meio ficaram vinte anos.

Vinte anos de manhãs assombradas, tardes murchas e noites de cinzel, a dar forma ao grito, atrás da janela, aquela que permite ver tudo o que couber num livro em branco.

Não sei se um de nós é livro, nem qual de nós é tinta. Somos matérias de uma história que teve o seu início. 

Pelo meio ficou a tragédia. 

“Voltarei quando sobrar apenas a poeira cósmica da minha existência.” Disseste e confesso ter sido quase divino imaginar-te um pó cintilante, asas infinitas de azul celeste e, ainda assim, sentir os teus braços, quase poesia a envolver-me, a fazer tombar as minhas dores. Quase...

Pelo meio aprendi que algumas felicidades doem a conquistar.

O fim, Eva, o fim é inquestionável! 

A macieira está velha e só tem uma maçã. Em breve cairá, mas se tu quiseres poderá ainda acontecer um perdurável recomeço. 

Sempre teu 

Adão"


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