Nenhum Olhar


 ‘Nenhum olhar’, é isso que tu tens.

É isto que digo, com os joelhos a arranhar o chão e as lágrimas a soltarem-se pelo rosto. Os braços perdidos no corpo que não consegue chegar ao teu. Estamos tão perto e é uma maratona conseguir chegar a ti. Tenho de correr quilómetros e, mesmo assim, não consigo ver a meta. Tento tocar-te, mas assola-me um medo de fazê-lo. Que isso te leve para mais longe. Tento dizer-te coisas, mas já não sei quais. O marasmo da vida levou-te.

Levanta-te, grita, reage. Ama-me.

Não há nada que te diga que te entre pelos ouvidos. Nem o calor do corpo do nosso filho te enche o peito. Nem o choro dele nos teus ouvidos te faz sair desse torpor em que o teu corpo enfiou a tua alma.

Luta. Por favor.

Já suplico. No fim é isto. O mesmo ritual. Na esperança de que agora possa ter sucesso. E é por isso que o repito, uma e outra vez.

Vem ter comigo. Não me deixes sozinha.

Não quero estar sozinha. Eu quero que estejas aqui comigo. Eu não sou capaz de viver tudo sozinha. Não quero que o nosso filho não te possa conhecer. Ou que apenas te conheça nessa bolha que vives hoje em dia. Quero que ele te veja. Que te veja no teu esplendor.

Acorda. Vive. Há vida lá fora. Há mundo para além da sombra. Há sorrisos e flores e música.

Talvez se sorrir? Limpo as lágrimas. Nenhum olhar…



Inês

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