A Filha do Capitão

 

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A FILHA DO CAPITÃO 

 A filha do capitão entrou de rompante na sala. Com a altivez que a caracterizava, caminhou com passos seguros, decidida a demonstrar a sua indignação por mais uma regra imposta, que, no seu entender, não tinha qualquer justificação.

Amélia era a mais nova de cinco irmãos, mas sempre fora a mais rebelde e a mais corajosa. Impulsiva por natureza, adorava desafiar as normas, levando ao desespero a sua recatada mãe. O pai, secretamente, pensava que fora uma perda não ter nascido rapaz, tal não era a força e determinação da sua única filha. Daria um excelente comandante do exército. “Uma pena, uma pena Amélia ter nascido rapariga”, dizia tantas vezes para si, enquanto fumava o seu cachimbo à janela, perdido em pensamentos.

Como era habitual, naquela manhã o Capitão estava sentado na sua mesa de mogno, enquanto lia o jornal. Quando a pesada porta se abriu, logo percebeu de quem se tratava. Pousou o jornal e levantando-se foi ao seu encontro. Abraçou-a com força, deu-lhe um beijo na testa e disse-lhe ao ouvido:

- Minha querida Amélia, é tudo para o teu bem! Está decidido que irás casar com o Segundo-Tenente Coutinho Marques. É um homem da minha inteira confiança.

O Capitão ainda mal terminara a frase, já Amélia havia desaparecido da sua vista. Nunca admitiria que alguém, que não ela própria, traçasse o seu destino.

Foi por isso que, naquele dia, naquela manhã, foi a última vez que a filha do Capitão fora vista naquela casa.


Isabel Marques


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