O Tecido do Outono

 O tecido do outono salpica os caminhos de tons quentes, prendendo-me a atenção aos pequenos detalhes e enchendo os meus dias de tempo e sentido.

Saio de casa e reparo no banco de jardim que sempre existiu, mas agora com um olhar mais demorado sobre quem se senta nele. O balanço das escadas leva-me, a mim e às folhas caídas, para dentro do túnel do metro. Vou contornando desconhecidos silenciosos, de olhar parado e nublado, e prossigo nesta gincana. Quando as portas abrem entro, eu e a corrente de húmida com cheiro a terra, e lentamente procuro o lugar mais confortável por entre casacos, chapéus de chuva e sacos estacionados no chão. A viagem repetida pelos dias leva-me sempre aos mesmo lugares, mas as pessoas sentadas à minha frente, humildes anónimos, são sempre diferentes.
Recordo o bebé que chorava como um adulto, o menino que mudava de pele a grande velocidade, a senhora de saia comprida que calçava um sapato mais pequeno e diferente do outro, o rapaz que tinha muito mais espaço para guardar o cérebro, o senhor agarrado a uma almofada em forma de coração,...
E é nestes dias vagarosos, vestidos de ocre e melancolia, que descubro a inesperada diversidade do que somos.

Escafandro



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