Como não matar as plantas de interior

 "Como não matar as plantas de interior," perguntou Isabel, "se não consigo manter vivas as pessoas?"

Olhou diretamente para o rosto da Elisabete, que a fitou de volta. Isabel abriu a boca mas nenhum som saiu. Ficaram imóveis. No rosto da Isabel, uma única lágrima rumava para o queixo.

A primeira a mexer-se foi a Elisabete.

Sem tirar os olhos da Isabel, Elisabete arqueou as costas e pôs um pé em frente do outro. Moveu-se com a lentidão de um gato territorial, nunca tirando os olhos igualmente felinos da Irmã Isabel. O braço dela roçou um cato. Picou-a. Elisabete fingiu ignorar e continuou a rondar até ficar a dois passos da Isabel.

A lágrima gotejou do queixo para aterrar na folha da calathea que Isabel acariciava, encurvada sobre si mesma na escuridão da sala.

Elisabete sentiu o cheiro abafador à terra açucarada que estava a soprar na sala. Tirou os olhos da Isabel e deixou-os pousar no prato que estava em cima da mesa ao lado da freira.

Recuou um passo sem querer.

Isabel, assustada pelo movimento, agarrou no prato e ofereceu-o bruscamente à Elisabete, que, não sabendo o que mais fazer, lhe tirou um suspiro pequeno. Levantou-o ao nariz, inspirou profundamente e baixou a mão, olhando de novo para Isabel.

Uma brisa quente entrou pela janela e fez mexer as folhas da fatsia japónica, criando uma murmuração que, no silêncio da sala, ressoou forte.

Ao redor da freira, entre as plantas, viam-se somente corpos.


Daisy Gusman




Comentários