O Porto das Almas
O porto das almas era um sítio escuro e desprovido de cor, um sítio que se assemelhava apenas aos lugares dos nossos pesadelos, onde não existe qualquer réstia de vida ou alegria.
Foi aqui, numa pequena e estreita viela, que acordou Maria. Abriu os olhos, colocou as palmas das mãos no chão frio e levantou-se com dificuldade, procurando perceber onde se encontrava. Ao fazê-lo quase voltou a cair, sentindo no topo da sua cabeça uma dor imensa, semelhante à pior ressaca imaginável.
Olhou em seu redor à procura de algo familiar, tentando identificar alguma coisa que lhe fizesse despertar uma lembrança daquilo que lhe tinha acontecido. Lembrava-se apenas de um jantar à luz das velas com um homem de cabelos negros, de uma garrafa de vinho tinto, de sair para a rua e sentir o toque frio da neve na sua cara. E depois nada.
Percorreu a pequena viela até um túnel de pedra polida, onde lhe era possível ver uma espécie de porto. Dali eram percetíveis os contornos dos barcos que ali se encontravam e os vultos das pessoas que se juntavam naquele sítio. Mas será que eram mesmo pessoas? Eram, à semelhança de todo o cenário em que se envolviam, desprovidas de cor e expressão.
Dirigiu-se na direção dos barcos, as pernas mexendo sem que lhes ordenasse, e ao passar diante de uma poça de água percebeu que também ela estava incolor. Encontrava-se morta. E era apenas mais uma alma na direção do porto.
Texto baseado na capa do livro “O porto das almas” de Lars Kepler.
Paulo Ferreira
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