O Homem Ausente

 "O homem ausente partiu para sempre!" - Era o acontecimento daquela manhã. A esposa abandonada passava pelas bancas de fruta de cabeça baixa, fingindo que não ouvia os comentários dos aldeões.


O marido partira durante a noite, virara costas àquela terra de ninguém e à família que mal conhecia e partiu no seu cavalo branco em direção ao que, dizia ele, ser o seu destino.

Partiu sem remorsos e sem olhar para trás. Aquela terra pouco lhe dizia, mas ela sabia o quanto a terra tinha a dizer sobre ele. Homem ausente, era o que lhe chamavam, pois, mesmo quando estava presente parecia não estar. Ela concordava, passava os dias a sonhar acordado com um olhar distante e poucas conversas tinha com ela.  Na verdade, mesmo quando as tinha, ela pouco percebia o que ele queria dizer quando falava de máquinas voadoras e barcos capazes de explorar o fundo do mar, limitava-se a sorrir-lhe e continuava a lida da casa.

No fundo, sabia que ele nunca se encaixara ali, o seu jeito extravagante era comentado pelos aldeões e para se resguardar, refugiava-se no estábulo escuro onde conversava com o seu cavalo sobre as engenhocas que ainda havia de construir.

Ela não lhe guardava rancor, entendia como era diferente e conhecia o sofrimento de não se encaixar naquele lugar. Desviou os olhos da banca das maçãs e reparou que todos a miravam. Há quanto tempo estaria ali perdida nos seus pensamentos? Talvez também ela fosse uma mulher ausente.



Nicole Ribeiro



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