M#rda! Amo-te!
“M#rda! Amo-te!” Insistia Carlos, enquanto esmurrava a porta do quarto, numa súplica falhada para entrar. Dormiu no sofá. De manhã, ressacado e perturbado, lembrou-se de Laura, ainda jovem, vestida de vermelho vibrante e com a mesma ardência nos lábios, a declamar palavras tiradas dos cadernos onde escrevia sobre o amor. Guardava-os numa gaiola e, sedutora, desafiava-o a resgatar um poema por um beijo.
Apressou-se a sair. Não queria enfrentar Laura depois do que acontecera na noite anterior. Dói-lhe a cabeça com tal intensidade que os olhos querem saltar das órbitas. Sente náuseas. Decide ir à praia.
Antes de chegar ao carro, vomita. Curvado sobre si, exaurido, de olhos postos no líquido azedo que escorre no passeio, recorda a consternação de Laura “És um bêbado! Um falhado!”
Certo da razão da mulher, obriga-se a reflectir sobre o rumo a dar à sua vida. Com 60 anos, o despedimento caiu-lhe como uma nódoa que não teve coragem de revelar! Deambulou todos os dias do último mês, fingindo ir trabalhar e embebedou-se, levando a mulher ao limite da tolerância.
Já no estacionamento, vê um homem sair do carro, sem fechar a porta e disparar a correr em direcção à arriba. Lança-se imediatamente atrás dele e chama “Hei, volte!” mas o outro não cede. Sem desistência, volta a chamar “ Hei, ajude-me, vou consigo!” O homem paralisa enquanto Carlos se aproxima. Olham-se. Tremem. Com voz rouca, entrecortada pela emoção, o homem diz “Quando morremos, vamos sozinhos” ao que Carlos responde “Por isso, estamos juntos”.
MAia Gueio
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