Cartas (5)
Adriana,
Sem forças, apenas consegui tirar-te os sapatos.
Olho, suspenso, de frente para os teus pés descalços, sem cor.
Baloiças como as folhas da árvore de onde partiste.
Brisa forte e silêncio no nosso jardim.
Desapareceu a dor que te consumia?
Hoje, sobre este pedaço de papel despeço-me, com a vertigem da interrogação
aguda: se eu tivesse atendido a chamada, que fingi não ter ouvido, ontem?
Estremeço. Um escadote tombado sob o teu corpo inteiro sem alma.
Chamo a polícia ou a tua mãe?
Assim ao vento, o vestido, que te ofereci, fica-te muito bem. Mas
assentava-te melhor quando estavas viva, com os pés quentes no chão de terra.
Agora vou. Quando chegarem desenlaçar-te-ão, para sempre.
Com amor, Serafim
Escrito por: Margarida Baptista
Helena,
Espero que esta mensagem te encontre, embora seja uma
esperança vã. Há algo de muito errado aqui.... Era capaz de jurar que éramos 7
quando começámos esta missão. Tenho quase a certeza. Há 7 cadeiras, 7 painéis,
7 fatos de exterior. No entanto, só nos reunimos 5 ontem. Vagueei pela nave
toda e só há 5 pessoas aqui. Já perdi a conta ao tempo. Deixei de contar
depois de perdermos o controlo.
Tenho de terminar, estou a ouvir a sirene de reunião.
Outra vez.
Reza por mim Helena, posso não te voltar a escrever.
Jorge
Escrito por:
Ana Quattorze Pereira
Muitos parabéns, Vanda! Texto espantoso.
ResponderEliminarMuito obrigada Inês!
EliminarConcordo. Triste mas lindo, Vanda. Parabéns.
ResponderEliminarVanda, fizeste-me arrepiar (reação que raramente permito à pele).
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