Naufrágio



“Ponto e vírgula, dois pontos, ponto de exclamação!” - Gritava o ponto final à página de rabiscos desconcertados em tinta permanente.

“E quando chega a minha vez?!” - Interrogava o ponto agora com uma forma mais inchada e tom avermelhado. Nunca mais terminava aquele texto para que entrasse com pompa e circunstância. Não gostava de ser um pontinho final, daqueles que intermedeia frases pequenas, sem sentido, apenas porque quem as lê precisa de respirar.

“Poetas, escritores ou os armados em… ficam-se pelas reticências sem dar um fim triunfante, como merece, qualquer pedaço de latim bem condimentado.” - Cacarejava o ponto cada vez mais inchado, vermelho e enfurecido.

Mas, a sua espera foi tão longa que não passou de um ponto morto sobre a folha perdida na praia a que o tempo levemente roubava os rabiscos, a pontuação e as próprias linhas pautadas agora confusas, entrelaçadas e sem direcção.



Escafandro

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